SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE PIRACICABA

Ser Professor!

15 de outubro de 2021 • Ygor Oliveira

Peguei os poucos livros que ainda restavam. Já havia embalado e retirado a maioria, além das teses, artigos e relatórios de pesquisa que haviam me guiado e me iluminado por muito tempo.

Já havia me despedido de alguns colegas e funcionários. Era noite. Antes de apagar as luzes, dei uma última olhada para minha sala e para o espaço onde tinha vivido por mais de vinte anos, no último estágio de minha carreira, iniciada havia mais de quarenta anos, quando ainda muito jovem, aos 22 anos de idade.

Naquele espaço do Instituto de Economia da Unicamp eu não participaria mais de debates ou da rica troca de ideias e experiências com meus pares e alunos, que me fizeram crescer como ser humano e profissional.

Passava das 23 horas e, sempre como o último a sair, tranquei a porta e, ao fazê-lo, senti que ali fechava o sonho de uma vida. Não teria mais a felicidade de me dedicar plenamente à busca de mais conhecimento, às pesquisas, à discussão com meus colegas e de frequentar as salas de aula para dividir com os jovens o que aprendera e aprender com eles.

Deixei para trás, ainda, versões preliminares de dois artigos resultantes de minhas pesquisas e a proposta de um livro que nunca mais conseguiria publicar, um legado que gostaria de ter deixado. Foi o pior dia de minha vida.Fiquei entristecido por um bom tempo e só pude superar porque os desafios da vida pública passaram a tomar todo o meu tempo e a minha consciência.

Ser prefeito de minha cidade, não obstante os dissabores eventuais, foi uma oportunidade única de traduzir os conhecimentos acadêmicos em políticas públicas que beneficiassem a maioria da população. O professor não estava mais diante de alguns jovens que dele esperavam alguma contribuição, mas da população de uma cidade com necessidades e demandas de toda natureza, para as quais esperava ter respostas.

Trouxe essa passagem pessoal, entremeada de sentimentos, para mostrar e tratar do que sinto e considero “ser professor” e “o ser professor”. O verdadeiro professor é uma escolha de vida, é emoção, empatia e não um contracheque. É dedicação permanente e busca incessante do conhecimento para dividir e trocar. Não é uma jornada de trabalho com horas consideradas de sacrifício, mas de amor ao saber e ao próximo. É uma jornada destinada ao enriquecimento do ser humano.

O professor tem que ser o exemplo de que o conhecimento vale a pena e que por meio dele podemos ter e proporcionar uma vida pessoal e social melhor àqueles com quem dividimos esse conhecimento, com repercussões para o conjunto da sociedade.

Preocupa-me a vitimização permanente de nossa profissão e propostas em defesa da redução do tempo de trabalho destinado a estudos, reflexões e trocas de experiências, quando a melhor alternativa para o reconhecimento social da profissão é demonstrar maior dedicação aos estudos e a busca permanente de melhores resultados. Isso só se consegue com muito trabalho e não com menos.

Finalmente, não precisamos ficar reafirmando a importância do professor. O que precisamos é mostrar à sociedade os avanços que podemos proporcionar. Ser professor não se resume a um diploma, cada vez mais fácil nos tempos atuais. O professor deve ser um estudante permanente, um curioso que se impõe desafios e nunca desiste de ampliar seus conhecimentos, se aperfeiçoar e descobrir os melhores caminhos para que seus alunos também se apropriem do conhecimento e alcancem um desenvolvimento pleno. A esse professor, comprometido e dedicado, devemos o reconhecimento.

Professor Gabriel Ferrato, vice-prefeito e secretário municipal de Educação de Piracicaba

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